quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Ex-voto! O que é?



Você sabe o que é um ex-voto? Se já passou pelo Santuário de Bom Jesus da Lapa na Bahia e entrou na “sala de milagres”, sabe do que estou falando. Um ex-voto é a representação do agradecimento por uma Graça, um milagre alcançado. Um ex-voto pode ser uma estatueta, um pé de cera, madeira, gesso, um quadro, fotografia, mecha de cabelos, enfim, estes objetos são colocados na sala de milagres. Em minhas pesquisas deparei-me com essa definição do site Itaú, se você quiser saber um pouco mais é só ler a matéria abaixo.
Paz e Bem!

Definição

Abreviação latina de ex-voto suscepto ("o voto realizado"), o termo designa pinturas, estatuetas e variados objetos doados às divindades como forma de agradecimento por um pedido atendido. Trata-se de uma manifestação artístico-religiosa que se liga diretamente à arte religiosa e à arte popular, despertando o interesse de historiadores da arte e da cultura, de arqueólogos e antropólogos. As motivações do presente votivo são muitas: proteção contra catástrofes naturais, cura de doenças, recuperação em virtude de sofrimentos amorosos, acidentes e dificuldades financeiras. O voto feito aos deuses, por sua vez, também adquire formas muito diversas: placa, maquete ou pintura descrevendo os motivos da promessa, ou pequenas réplicas (de barro, madeira ou cera) das partes do corpo afetadas por moléstias (perna, cabeça, mão, coração etc.), chamadas por alguns de "ex-votos anatômicos". Designam-se "ex-votos marinhos" aqueles em forma de barcos, realizados em regiões litorâneas. Colocados em locais públicos - capelas ou sala de milagres -, os painéis ou presentes votivos trazem freqüentemente a inscrição "ex-voto" ou "milagre feito".


O tipo de troca com o divino que o ex-voto expressa, artística e ritualmente, é uma prática observada em todas as épocas e culturas. Pairam dúvidas sobre sua origem, embora algumas fontes localizem-na entre os fenícios. É observada nas religiões pré-cristãs e pré-islâmicas da Ásia Menor, norte da África, e povos mediterrâneos, da Europa ocidental e central. Formas comparáveis ou idênticas encontram-se em tradições recentes e populares da Índia, Tibet, China e Japão. O costume de oferecer "presentes votivos" se dissemina pelas Américas do Sul e Central, entre a colonização portuguesa e espanhola, e as missões católicas romanas. Na Idade Média, o ex-voto é hábito da nobreza, que encomenda os objetos votivos - em geral pinturas - a artistas conhecidos. Até o século XVI, o ex-voto pintado se mantém preferencialmente relacionado às classes mais abastadas; e, a partir desse período, as imagens votivas se disseminam pelo mundo ocidental, aparecendo cada vez mais em imagens populares.

Ao se popularizar, o ex-voto diversifica a forma, ficando a cargo de artesãos e artífices, em geral anônimos, instalados perto dos santuários ou de lugares de peregrinação, a quem as peças são encomendadas. Em razão dos materiais perecíveis empregados (como a cera) e de furtos (quando se trata de metais nobres), muitos desses objetos se perderam com o tempo. Entre as imagens mais antigas preservadas a que se tem acesso encontram-se as da igreja de Hagios Demetrios (séculos VI e VII) em Tessalônica, Grécia, e as da catacumba de Commodilla, Roma (século VI).

No século XIV, especificamente, um tipo de imagem votiva predomina. Trata-se de pintura sobre madeira, cartão, tecido ou vidro, de caráter descritivo, cuja composição obedece a um padrão determinado: na parte inferior, encontra-se a imagem daquele que pede a graça, em postura de prece ou veneração. Atrás dele, o motivo do pedido, retratado de forma realista, em tamanho reduzido. Na parte superior, figura o personagem sobrenatural evocado, dominando a cena: ora colocado em trono ou altar, ora flutuando numa nuvem. A representação pictórica traz invariavelmente a inscrição: "ex-voto". Se os ex-votos pintados têm grande propagação a partir de então - sobretudo na Itália do século XV -, isso não quer dizer que esculturas não sejam realizadas também, como, por exemplo, a pequena estatueta do príncipe Maximiliam Philipp Hieronymus da Bavária, catedral de Munique, 1644.

Os ex-votos são amplamente realizados até hoje, em todo o mundo. No Brasil, trata-se de uma tradição que remonta ao século XVIII e ao ex-voto pintado do convento de Santo Antônio de Igaraçu, em Pernambuco, procedente da antiga igreja de São Cosme e Damião, 1729. Nele encontra-se relatada a epidemia da peste que atinge o Estado em 1685, e que não teria alcançado a cidade em razão da promessa feita pela população. Em Salvador, no mosteiro de São Bento, encontra-se a pintura de 1745, que representa a figura daquele beneficiado pelo milagre, Agostinho Pereira da Silva, que teria escapado de ladrões em razão da promessa feita a Nossa Senhora dos Remédios. No Museu do Estado de Pernambuco, é possível ver três painéis, datados de 1709, representando as batalhas dos montes Guararapes e das Tabocas, e o apelo feito a Nossa Senhora dos Prazeres. Ex-votos esculpidos em madeira se fazem presentes em diversos Estados do Nordeste brasileiro, principalmente Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte.

Ainda que, de modo geral, essas obras sejam anônimas, é possível citar os nomes de alguns artistas como Dezinho de Valença (1915), Mestre Noza (1897 - 1984), e de Zé Leão, muito conhecido como escultor de ex-votos. O Museu Câmara Cascudo, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, mantém uma importante coleção de ex-votos de várias regiões do Estado. As "casas de milagres" dos grandes centros de peregrinação, como o de Bom Jesus da Lapa, Bahia, o de Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas do Campo, Minas Gerais, Canindé, Ceará e Aparecida do Norte, São Paulo, recebem grande variedade de objetos trazidos pelos romeiros que vêm pagar promessas.

Fontes de pesquisa

ACHE, César. Ex-voto. In: MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP.  Arte Popular: Mostra do Redescobrimento. Curadoria geral Nelson Aguilar; curadoria Emanoel Araújo, Frederico Pernambucano de Mello; assistência de curadoria Gilberto Habib de Oliveira, Sônia Maria Leme; tradução Grant Ellis, Izabel Murat Burbridge, John Norman, Paulo Henriques Britto. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo : Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. 319 p., il. color.
MORETTE, Pietrina. Ex- voto della Sardegna. Cagliari: Editrice Sarda Fossataro, 1972, 165 pp. il. P&b. color.
ROBERJOT, Bernadette. Les ex- votos et Notre Dame de Grace. Honfleur: Édition de la lieutenance, s/ d, 130 pp. Il. p&b.color.
TURNER, Jane (ed). The Dictionary of Art Grove. New York: Macmillan Publishers Limited, 1996, vol. X, 913 pp. Il. P&b.
ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães : Instituto Walther Moreira Salles, 1983. 1106 p., il. color. 2v.


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