Você sabe o que é um ex-voto? Se já passou pelo Santuário
de Bom Jesus da Lapa na Bahia e entrou na “sala de milagres”, sabe do que estou
falando. Um ex-voto é a representação do agradecimento por uma Graça, um
milagre alcançado. Um ex-voto pode ser uma estatueta, um pé de cera, madeira,
gesso, um quadro, fotografia, mecha de cabelos, enfim, estes objetos são colocados
na sala de milagres. Em minhas pesquisas deparei-me com essa definição do site
Itaú, se você quiser saber um pouco mais é só ler a matéria abaixo.
Paz e Bem!
Definição
Abreviação latina de ex-voto suscepto ("o
voto realizado"), o termo designa pinturas, estatuetas e variados
objetos doados às divindades como forma de agradecimento por um pedido
atendido. Trata-se de uma manifestação artístico-religiosa que se liga
diretamente à arte religiosa e à arte popular, despertando o interesse de
historiadores da arte e da cultura, de arqueólogos e antropólogos. As
motivações do presente votivo são muitas: proteção contra catástrofes naturais,
cura de doenças, recuperação em virtude de sofrimentos amorosos, acidentes e
dificuldades financeiras. O voto feito aos deuses, por sua vez, também adquire
formas muito diversas: placa, maquete ou pintura descrevendo os motivos da
promessa, ou pequenas réplicas (de barro, madeira ou cera) das partes do corpo
afetadas por moléstias (perna, cabeça, mão, coração etc.), chamadas por alguns
de "ex-votos anatômicos". Designam-se "ex-votos marinhos"
aqueles em forma de barcos, realizados em regiões litorâneas. Colocados em
locais públicos - capelas ou sala de milagres -, os painéis ou presentes
votivos trazem freqüentemente a inscrição "ex-voto" ou "milagre
feito".
O tipo de troca com o divino que o ex-voto
expressa, artística e ritualmente, é uma prática observada em todas as épocas e
culturas. Pairam dúvidas sobre sua origem, embora algumas fontes
localizem-na entre os fenícios. É observada nas religiões pré-cristãs e
pré-islâmicas da Ásia Menor, norte da África, e povos mediterrâneos, da Europa
ocidental e central. Formas comparáveis ou idênticas encontram-se em tradições
recentes e populares da Índia, Tibet, China e Japão. O costume de oferecer
"presentes votivos" se dissemina pelas Américas do Sul e Central,
entre a colonização portuguesa e espanhola, e as missões católicas
romanas. Na Idade Média, o ex-voto é hábito da nobreza, que encomenda os
objetos votivos - em geral pinturas - a artistas conhecidos. Até o século XVI,
o ex-voto pintado se mantém preferencialmente relacionado às classes mais
abastadas; e, a partir desse período, as imagens votivas se disseminam pelo
mundo ocidental, aparecendo cada vez mais em imagens populares.
Ao se popularizar, o ex-voto diversifica
a forma, ficando a cargo de artesãos e artífices, em geral anônimos,
instalados perto dos santuários ou de lugares de peregrinação, a quem as peças
são encomendadas. Em razão dos materiais perecíveis empregados (como a cera) e
de furtos (quando se trata de metais nobres), muitos desses objetos se perderam
com o tempo. Entre as imagens mais antigas preservadas a que se tem acesso
encontram-se as da igreja de Hagios Demetrios (séculos VI e VII) em
Tessalônica, Grécia, e as da catacumba de Commodilla, Roma (século VI).
No século XIV, especificamente, um tipo de imagem
votiva predomina. Trata-se de pintura sobre madeira, cartão, tecido ou vidro,
de caráter descritivo, cuja composição obedece a um padrão determinado: na
parte inferior, encontra-se a imagem daquele que pede a graça, em postura de
prece ou veneração. Atrás dele, o motivo do pedido, retratado de forma
realista, em tamanho reduzido. Na parte superior, figura o personagem
sobrenatural evocado, dominando a cena: ora colocado em trono ou altar, ora
flutuando numa nuvem. A representação pictórica traz invariavelmente a
inscrição: "ex-voto". Se os ex-votos pintados têm grande propagação a
partir de então - sobretudo na Itália do século XV -, isso não quer dizer que
esculturas não sejam realizadas também, como, por exemplo, a pequena estatueta
do príncipe Maximiliam Philipp Hieronymus da Bavária, catedral de Munique,
1644.
Os ex-votos são amplamente realizados até hoje, em
todo o mundo. No Brasil, trata-se de uma tradição que remonta ao século XVIII e
ao ex-voto pintado do convento de Santo Antônio de Igaraçu, em Pernambuco,
procedente da antiga igreja de São Cosme e Damião, 1729. Nele encontra-se
relatada a epidemia da peste que atinge o Estado em 1685, e que não teria
alcançado a cidade em razão da promessa feita pela população. Em Salvador, no
mosteiro de São Bento, encontra-se a pintura de 1745, que representa a figura
daquele beneficiado pelo milagre, Agostinho Pereira da Silva, que teria
escapado de ladrões em razão da promessa feita a Nossa Senhora dos Remédios. No
Museu do Estado de Pernambuco, é possível ver três painéis, datados de 1709,
representando as batalhas dos montes Guararapes e das Tabocas, e o apelo feito
a Nossa Senhora dos Prazeres. Ex-votos esculpidos em madeira se fazem presentes
em diversos Estados do Nordeste brasileiro, principalmente Piauí, Ceará e Rio
Grande do Norte.
Ainda que, de modo geral, essas obras sejam
anônimas, é possível citar os nomes de alguns artistas como Dezinho de
Valença (1915), Mestre Noza (1897 - 1984), e de Zé Leão, muito
conhecido como escultor de ex-votos. O Museu Câmara Cascudo, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, mantém uma importante coleção de
ex-votos de várias regiões do Estado. As "casas de milagres" dos
grandes centros de peregrinação, como o de Bom Jesus da Lapa, Bahia, o de Bom
Jesus do Matosinhos, em Congonhas do Campo, Minas Gerais, Canindé, Ceará e
Aparecida do Norte, São Paulo, recebem grande variedade de objetos
trazidos pelos romeiros que vêm pagar promessas.
Fontes de pesquisa
ACHE, César. Ex-voto. In: MOSTRA DO
REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte
Popular: Mostra do Redescobrimento. Curadoria geral Nelson Aguilar; curadoria
Emanoel Araújo, Frederico Pernambucano de Mello; assistência de curadoria
Gilberto Habib de Oliveira, Sônia Maria Leme; tradução Grant Ellis, Izabel
Murat Burbridge, John Norman, Paulo Henriques Britto. São Paulo: Fundação
Bienal de São Paulo : Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. 319 p.,
il. color.
MORETTE, Pietrina. Ex- voto della Sardegna. Cagliari: Editrice Sarda Fossataro,
1972, 165 pp. il. P&b. color.
ROBERJOT, Bernadette. Les ex- votos et Notre Dame de Grace. Honfleur: Édition de la lieutenance, s/ d, 130 pp. Il.
p&b.color.
TURNER, Jane (ed). The Dictionary of Art Grove. New York: Macmillan Publishers Limited, 1996, vol. X, 913 pp. Il.
P&b.
ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo:
Fundação Djalma Guimarães : Instituto Walther Moreira Salles, 1983. 1106 p.,
il. color. 2v.
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